ANÁLISES DO LEPETRO/UFBA INDICAM CORRELAÇÃO ENTRE ÓLEO DERRAMADO EM SALVADOR E PETRÓLEO DO KUWAIT
Pesquisadores do LEPETRO (Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo, Energia e Meio ambiente do Instituto de Geociências da UFBA) analisaram uma amostra, coletada na Praia da Barra, do óleo derramado em praias de Salvador e chegaram à conclusão de que este óleo guarda forte correlação com o petróleo produzido no Kuwait. O laudo técnico indica que "possivelmente, o descarte de água oleosa de tanques de algum navio petroleiro transitando no mar da Bahia, tenha sido a causa do aparecimento dos “tar balls” (bolas de óleo) na Praia da Barra em Salvador".
A análise realizada pela equipe liderada pela pesquisadora Olívia Oliveira evidenciou que este óleo não é o mesmo de 2019, proveniente da Venezuela, e tampouco o óleo de 2022, originário do golfo do México.
O derramamento de óleo já se estende pela costa sul baiana. Sua extensão e o impacto são motivo de grande inquietação para as autoridades ambientais e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) já colocou uma equipe realizando coleta de amostras do óleo que chegou aos municípios do sul da Bahia. Essas amostras também serão encaminhadas ao LEPETRO UFBA, que é referência no estudo e na análise de tais substâncias.
Laudo Técnico
Origem geoquímica das amostras de Petróleo coletada na praia da Barra, Salvador, Bahia, em setembro de 2023
Com objetivo de se determinar a origem geológica de material oleoso que surgiu em praias da Bahia em setembro de 2023, o Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (IGEO/UFBA), através do seu Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo, Energia e Meio Ambiente (LEPETRO), analisou amostra coletada na Praia da Barra, em Salvador, Bahia. A coleta da amostra do material oleoso foi realizada por Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Geoquímica: Petróleo e Meio Ambiente (POSPETRO)/IGEO/UFBA, em 12.09.2023, seguindo protocolo desenvolvido e adotado por essa Instituição. O material coletado foi devidamente cadastrado no LEPETRO/IGEO/UFBA e iniciados os procedimentos analíticos no mesmo dia. A amostra analisada possuía característica física visual (viscosidade, cor e odor) de petróleo. A primeira etapa analítica consistiu da separação física e desidratação do material contaminante da areia e água do mar. Posteriormente, o óleo total foi injetado em cromatógrafo à gás com detector de chama (GC FID) para a obtenção do fingerprint. A fração das parafinas, obtida por cromatografia líquida, foi injetada em cromatógrafo à gás com detector de massas (GC-MS) com a finalidade de se analisar os biomarcadores saturados e avaliar suas feições, monitorando os íons m/z 217 (esteranos), m/z 191 (terpanos) e m/z 259 (poliprenóides tetracíclicos e diasteranos). A partir dos resultados das análises por cromatografia gasosa (fingerprint) observou-se que a amostra coletada na praia do bairro da Barra, possui o perfil de distribuição dos hidrocarbonetos característica de petróleo cru, e é diferente daqueles fingerprints das amostras do óleo que surgiu no litoral do nordeste brasileiro em 2019 (com origem geológica/geoquímica de bacia Venezuelana), e em setembro de 2022 (com origem geológica/geoquímica do Golfo do México), também analisadas pelo LEPETRO/IGEO/UFBA. O cromatograma da amostra coletada agora na Praia da Barra mostra a perda por evaporação da fração de hidrocarbonetos leves (abaixo de C-13) e elevação da linha base (UCM), devido ao aumento relativo dos compostos de nitrogênio, enxofre e oxigênio. Foi realizada a comparação entre os resultados das análises dos biomarcadores saturados, indicativas de origem geológica do petróleo da amostra coletada na praia da Barra com o resultado de análises de todos os tipos de petróleo produzidos no Brasil e de países cujos navios petroleiros transitam no Oceano Atlântico entre o Brasil e a África (Venezuela, Nigéria e de países do Oriente Médio). Observou-se que dentre todos os resultados, aqueles de amostra de petróleo produzido no Kuwait (Oriente Médio), mostrou maior semelhança com os resultados analíticos da amostra do óleo coletado na praia da Barra. Os cromatogramas de massa mostrados nesta nota, são de: a) amostra pertencente ao Banco de Óleos do LEPETRO/IGEO/UFBA; b) resultado apresentado na referência Bibliográfica “The Biomarker Guide” (Peters & Moldowan, 2005). Possivelmente, o descarte de água oleosa de tanques de algum navio petroleiro transitando no mar da Bahia, tenha sido a causa do aparecimento dos “tar balls” na Praia da Barra em Salvador.
Salvador, 14.09.2023
Profa. Dra. Olívia Maria Cordeiro de Oliveira
Coordenadora do projeto REBICOP
Edital CNPq 06/2020